entrevista

Após cura de covid-19, empresário desabafa: 'não tem o que fazer. Não tem o plano B'

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O empresário Valnei Beltrame, 57 anos, dono da Beltrame Casa e Construção, teve alta na quarta, após ficar duas semanas em tratamento contra o novo coronavírus. Antes de ficar doente, ele esteve numa feira em São Paulo e com dirigentes do Grêmio que ficaram doentes, na Capital. Ele diz que viveu um dos momentos mais difíceis da vida dele, pois teve febre de 40°C, problemas pulmonares e não se sabia o que poderia curá-lo. Após o grande susto, ele está curado e segue em isolamento até domingo. A esposa dele, Sandra, 54 anos, segue internada em estado estável, com suspeita de cororonavírus. Beltrame conta o que aprendeu e fala da possibilidade de o comércio ir voltando aos poucos, mas sempre respeitando as orientações dos médicos.

Diário - Depois de tudo o que senhor passou, qual o sentimento hoje?
Valnei Beltrame -
Eu nunca passei por isso, tu ficas inerte, não tem o que fazer. É muito complicado. Tem de cuidar essas pessoas idosas. Agora, já estou melhor. A hora que tu pisa no fio da navalha, na hora que tu chega a 40°C em cima de uma cama e os caras te enchem de coisas geladas para ti voltar e você ouve os médicos dizendo que não tem um plano B, isso te deixa muito assustado, te deixa impotente. Eu, Valnei, vou mudar muita coisa. A gente se apega, talvez, muito a bens materiais. Não que eu sou assim ou seja tanto assim, ajudo todo mundo através de Lions e tal. Mas acho que precisamos mudar um pouco esse mundo. Está muito errado. Talvez esse seja um recado que estão mandando para a gente remodelar ele, prestar mais atenção nas coisas que estão acontecendo. 

Diário - Teve medo de morrer?
Beltrame - Não é o medo de morrer. Eu estava na mão dos médicos melhores, o Thiego, a Jane, o Fábio. Mas a questão é não saber a cura, não sabe qual o remédio que vai te curar. E se eu fosse alérgico a esse remédio contra a malária? Não tem volta. Tem gente jovem morrendo, falam que não tem, mas tem. Passei dos 40°C na quarta-feira, e não passa, não passa. Daí, o doutor falou "vamos dobrar a medicação". Aí dobra a medicação e reage na quinta. E se não reage a medicação? Não tem o que fazer. Não tem o plano B. Isso é uma surpresa que te pega. Há 15 dias atrás, eu estava bem.  

Diário - O que o senhor vai mudar?
Beltrame - Acho que tem de mudar muito os relacionamentos. As pessoas estão cada vez mais nervosas. Para uma simples discussão para abrir o comércio no dia 6 ou dia 15, tem gente quase se matando pela internet. Na realidade, acho que é questão de escutar os médicos. Santa Maria tratou muito bem a questão do coronavírus, tanto é que a cidade está sem maiores problemas. Acho que pode haver discussão para começar a abrir o comércio dia 7, dia 8, devagarinho, começar a trabalhar. Sentar todo mundo junto e não ter aquela vaidade. "Ah, o governador trancou, é só no dia 15". Pô? O governador, depois do dia 16, dia 18 ou dia 20, vai cobrar impostos da gente. Se não pagar, eles cobram juros de 15%, 16%. Como ficam as empresas? Eu era a favor de, primeiro, respeitar o colaborador. E foi o que todo mundo fez, todo mundo respeitou o colaborador, ninguém abriu desde aquela sexta, a não ser as empresas que poderiam abrir. Agora que as coisas já estão entrando nas rotas normais, começa a liberar com porta fechada, com bastante álcool. Não podemos ficar a vida inteira com portas fechadas. 

Diário - No sábado, o senhor fez um vídeo pedindo para os empresários não abrirem as lojas nesta semana. O que mudou de lá para cá?
Beltrame
- Acho que tem de sentar as autoridades competentes da cidade. Não é o governador que sabe o que está acontecendo aqui, quem sabe é o prefeito, a Cacism, a CDL, os dois ou três médicos. E eles vão dizer "o surto passou, ou não passou". "Não podemos liberar ônibus para idosos", pois diz que ontem (quarta) tinha 700 idosos nos ônibus. Qual a necessidade? Nenhuma.Tem de sentar as pessoas que decidem: o prefeito, a Câmara de Comércio, os médicos e aí decidir "Vamos abrir com as portas fechadas", trabalhar segunda, ou terça e vendo a reação, se não dá aumento nenhum de corona e as coisas se estabelecem. E daí vai liberando aos poucos o decreto. Qualquer coisa, dá um passo atrás. Não tem problema. O que não pode é esperar até o dia 15, ou até dia 22 ou 23. Até o doutor Fabio (Lopes Pedro) está achando demais (Leite decidir suspender comércio por duas semanas, e não avaliar de semana a semana), porque a gente se preparou, a gente fez reunião, a gente conversou, e graças a Deus a gente conseguiu barrar entre o coronavírus e Santa Maria. Agora, acho que está na hora de retomar as coisas devagarinho e reavaliando diariamente. Tem o comitê de crise para quê? 

Diário - Mas sempre respeitando o que especialistas dizem?
Beltrame -
Sim, tem de ouvir os profissionais que sabem. Tem de ouvir os especialistas. Eu mesmo estou vendo bastante movimento aqui na Faixa Velha. Não vai conseguir segurar muito mais tempo as pessoas dentro de casa. E nos ônibus, tem bastante gente também passando. 

Diário - E os funcionários, têm hoje clima para voltar a trabalhar aos poucos?
Beltrame -
A gente está fazendo uma cartilha explicando para os funcionários. Vamos trabalhar a partir de segunda-feira só com 40% a 50% dos funcionários, mas todo mundo em casa, no formato delivery. Só vai ter dois ou três na loja apenas para entregar a mercadoria, com tudo demarcado, as distâncias e tal. E existem obras que têm necessidade de materiais, inclusive obra de hospital. Como a construção civil vai funcionar sem material. E não tem de ter medo de recuar, se for preciso. 

Diário - Os médicos acham que esse remédio, a cloroquina, te ajudou?
Beltrame -
Na minha opinião, os médicos estão achando que esse é o único que está resolvendo. Não tem outro. O único que eles te dão é o paracetamol para febre, que injetam para baixar a febre que está em 39°C ou 40°C. Teu pulmão está fechando. 

Diário - Usaram cloroquina e azitromicina?
Beltrame -
Sim, são remédios fortes. Chega a te dar ânsia de vômito na hora de tomar, de tão fortes que são. Acho que ajudaram a me salvar. E não é fácil ficar 10 dias numa cama de hospital aguardando a medicação. Começa a te debilitar, te debilitar, te debilitar. A tua cabeça não começa a funcionar mais. Tem de ter um senso de concentração. Mas graça a Deus, saí ileso. Agora, a Sandra está lá e vai sair ilesa.

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